Editorial Boletim OTIUm 11: Repensando o gênero desde o Ócio e a Recreação

Editorial Boletim OTIUm 11: Repensando o gênero desde o Ócio e a Recreação

Sabe-se que o ócio, como fenômeno social, constitui um terreno fértil para a reprodução de estruturas, imaginários e estereótipos sociais diversos, que podem contribuir, entre outras coisas, para perpetuar as desigualdades e injustiças associadas à questões de gênero. Ainda hoje, é difícil encontrar práticas ou atividades (esportivas, festas e danças, jogos digitais, atividades culturais como o cinema ou a televisão, etc.) estranho à representações de gênero que, sob o estigma da normalidade, expõem e, em certa medida, impõem formas de ser, pensar e fazer diferenciadas, em função de uma determinada atribuição a um gênero ou outro.

Porém, não é menos verdadeiro que, neste cenário em que o ócio se revela como um poderoso instrumento à serviço do “status quo”, isto é, do modelo dominante de heteronormatividade, emergem também sinais e vozes de mudança que tornam visíveis a versatilidade do ócio e sua capacidade para atuar em uma dupla direção, como fenômeno produtor e reprodutor das estruturas dominantes de poder que encorajam a discriminação baseada nas diferenças derivados do gênero; como espaço de reinvindicação, resistência e transformação para novos modelos de equidade, sustentados no valor da diversidade e da superação de formas binárias de pensamento. Enfim, e recorrendo ao termo “desconstrução” utilizado por Butler, se o ócio pode favorecer a construção do gênero, por quê não vão permitir desconstruí-lo? Não há dúvida de que revelar como é e como será durante os próximos anos, um dos grandes desafios dos Estudos de Ócio e da Recreação.

By |2018-01-26T17:22:33+00:00janeiro 26th, 2018|Notícias|0 Comentários