Editorial Boletim OTIUM 13

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Itinerários de ócio como estratégia para entender a dinâmica  do ócio

O estudo de itinerários de ócio é parte dos tópicos de pesquisa emergentes no campo dos Estudos do Ócio. Sua relevância reside em sua contribuição para a compreensão dos processos relacionados ao início, continuidade e declínio de nossos repertórios de ócio em geral, mas também, acima de tudo, às atividades de ócio que são especialmente valiosos para nós. O conceito de itinerário de ócio refere-se à trajetória de ócio que cada pessoa desenvolveu ao longo de sua vida; envolve, portanto, o conjunto de experiências de ócio que a pessoa desfrutou em sua história de vida, pois conhecer itinerários de ócio envolve a reconstrução de histórias pessoais de ócio com a intenção de elucidar a existência de padrões de mudança e/ou os fatores envolvidos nas decisões que as pessoas adotam sobre o ócio em cada etapa da sua vida. Basicamente, este enfoque analisa uma evolução dinâmica do ócio a partir de uma perspectiva longitudinal e complexa; isto é, o peso da continuidade em face da mudança como duas tendências inerentes ao ser humano que estão na base de nossos comportamentos de ócio.

Existe alguma etapa especialmente propícia para o início das práticas de ócio? Há momentos na vida mais propícios que outros para o abandono? Que fatores incidem em nossas decisões de início, continuidade ou abandono? Qual é o papel dos agentes sociais significativos nestas decisões? Que tipo de influência exercem?  E como? Que influência tem o gênero na configuração dos itinerários de ócio? E o desejo de inovação? Existe alguma fase que tenha especial importância? Que função desempenha? Estas são algumas das perguntas que permitem dar respostas ao estudo dos itinerários de ócio. Convém demarcar que a idiosincrasia das trajetórias de ócio e, portanto, o foco de estudo, pode ser distinto, dependendo se trata-se de itinerários desportivos, culturais, turísticos ou se analisam-se as histórias de ócio em geral.

O interesse prático despertado pelo estudo dos itinerários de ócio radica especialmente em seu valor preditivo. Dispor de informação relevante sobre a evolução geral dos padrões de ócio nos distintos momentos da vida torna possível prever a vivência de momentos críticos, etapas de máxima potencialidade a partir do ponto de vista do desenvolvimento pessoal e social, ou períodos críticos nos quais o ócio requer que se iniciem medidas de intervenção concretas, sejam educativas, psicológicas e comunitárias. O valor prospectivo do conceito de itinerário se torna a principal questão  para pesquisadores e profissionais que percebem neste conceito uma nova via para ajustar-se ao máximo às preferências e possibilidades de mudança da demanda, assim como para otimizar os benefícios de seus programas de ócio. A adoção deste enfoque longitudinal de ócio e a implementação do conceito de itinerário no âmbito profissional implica, por sua vez, em diversas implicações. Entre elas, tem destaque, por sua importância, a necessidade de conjugar o olhar sincrônico habitual com o que apresenta a maioria das ofertas e programas de ócio, com outra, de caráter longitudinal, plenamente consciente de que o ócio atual tem óbvias implicações no ócio das etapas posteriores da vida. Qualquer política de ócio, modelo de gestão ou intervenção neste âmbitonão pode obviar este valor prospectivo ou o potencial de suas intervenções como facilitadores ou inibidores de ócio.

Esta perspectiva temporal que conjuga o sincrônico com o diacrônico, na qual o ócio do presente se torna uma base sólida para delinear o ócio do futuro, abona o terreno para a educação do ócio na medida em que sabemos que o ócio valioso não é fruto do azar nem da espontaneidade, mas sim do processo vital, em virtude do qual cada pessoa vai abrindo-se a novos horizontes de interesse nos quais cultivará suas potencialidades, capazes de converter o ócio em um fator de desenvolvimento pessoal e social.

By |2018-07-23T12:22:52+00:00julho 4th, 2018|Sem categoria|0 Comentários